A história mais uma vez se repete no Corinthians e via de regra no futebol. Os garotos que surgem nas categorias de base ao chegar aos 18 anos vivem a incômoda situação de não poderem mais morar nos alojamentos e ficar próximo ao local dos treinamentos. É o que está acontecendo com, pelo menos, 11 garotos da categoria de juniores - alguns deles venceram a Copa São Paulo no início do ano. Justamente o Corinthians que tanto se orgulhou de revelar talentos, os chamados "meninos do terrão". A situação está lá para quem quiser conferir.
Na segunda-feira, retorno das férias, dia da apresentação ao clube, eles foram informados que não teriam mais moradia. Os atletas dizem ter dificuldade parar procurar fiadores, ter o dinheiro para a reserva do aluguel ou simplesmente conseguir arcar com essa despesa, além da verba de transporte. Muitos deles mandam dinheiro para sustentar suas famílias. Na noite de segunda, eles tiveram que improvisar uma lugar para dormir. Ontem a diretoria do clube confirmou que não poderia fazer mais nada a não ser libera-los para empréstimo a outros clubes até da quarta divisão.
Mas essa é só a ponta do iceberg. Esses garotos deixam suas cidades ainda muito jovens, vindos de todo canto do país, alimentados pela esperança de fazer parte da elite do futebol. Vários clubes que participam da Copa São Paulo são de empresários dispostos a lançarem seus talentos e fazer negócios, não só com os grandes centros, como no exterior, já que representantes de equipes européias acompanham o evento. Outros times preferem não arriscar seus jogadores nesse balcão de negócios. Os meninos assinam contratos ainda muito jovens e passam a ter seus destinos gerenciados por clubes que não estão dispostos a bancar talentos sem garantia de lucro. Alguns são "colocados na geladeira" por não conseguirem patrocinio para seguir a carreira e por não ter padrinho que banque seu futuro. Presos a contratos com multas, não podem optar por outros clubes, mesmo sem a garantia de ingresso na categoria profissional.
Existem clubes que auxiliam os jogadores a manter uma estrutura mínima de trabalho. O São Paulo costuma emprestar jogadores a outros clubes para que possam continuar buscando um espaço. O pior para esses jovens é se sentirem rejeitados. Eles não tiveram a mesma sorte que Boquita, Marcelinho e Bruno Bertucci que foram para a categoria profissional, promovidos depois da vitória no torneio de juniores.
Não me preocupa apenas o fim do talento como valor principal no futebol, mas também a questão social por trás da realidade desses jovens jogadores. Eles abandonam os estudos para se dedicarem ao futebol como profissão. O sonho da maioria acaba sem ter começado.
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