Li hoje no IG. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) atesta que a dupla “sexo e droga” é uma farsa. No caso dos homens, mostram os dados coletados em 295 pacientes em tratamento por uso de maconha, crack, cocaína e álcool, os problemas relacionados ao desempenho sexual, como impotência e ejaculação precoce, ficam muito mais recorrentes.
Para as mulheres,segunda etapa do estudo, os especialistas acreditam que o dano é ainda mais nocivo: a região do cérebro ligada à libido e ao prazer é afetada e pode inviabilizar a relação sexual.
“As dependentes químicas têm imensa dificuldade em ter vida sexual sadia, mesmo quando já estão longe das drogas”, afirma autora do estudo Alessandra Diehl, psiquiatra especializada em dependência química e sexualidade. “Muitas mulheres usam o sexo para conseguir drogas durante o vício. Por isso, fica delicado encarar a relação sexual naturalmente após o tratamento. Ou as pacientes associam o sexo a uma possível recaída ou simplesmente não querem mais contato sexual com ninguém”.
Os dados da pesquisa da Unifesp, ainda preliminares, mostram que 47% dos usuários de drogas apresentam queixas de disfunção sexual, 14 pontos acima do índice de transtornos detectado na população em geral (33%, segundo levantamento do programa de sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas).
Além de conviverem com mais problemas sexuais, 68% dos participantes afirmaram negligenciar o preservativo durante as relações sexuais – 41% não usam e 27% usam esporadicamente – um passo arriscado em direção às doenças sexualmente transmissíveis, que também podem causar disfunção erétil e dor durante o sexo.
“O que nos chamou atenção é que quando questionados porque não usam preservativo, a resposta mais frequente dos dependentes foi ‘tenho um relacionamento fixo’”, explica Alessandra. “Esta informação contrasta com outro dado identificado no levantamento. Em média, os pacientes estudados informaram ter cinco parceiros sexuais diferentes durante o ano, um comportamento promíscuo para os padrões da OMS (Organização Mundial de Saúde), que define como três parceiros anuais o índice aceitável”, afirma a médica ao completar que a constatação serve de termômetro do quanto a visão do que é um relacionamento estável também é comprometida pelo uso da droga. “Tudo é muito efêmero. Nada é mais aprofundado.”
Na primeira etapa do estudo da Unifesp, a maior parte dos pesquisados foi de homens. As poucas mulheres participantes trouxeram a evidência de que a sexualidade feminina após a dependência precisa ser mais pesquisada, aprofundada e trabalhada durante o tratamento.
“Só para citar um exemplo, uma das mulheres participantes teve 120 parceiros sexuais em um ano. Como ela vai reconstruir a vida sexual sem a droga?”, questiona Alessandra Diehl.
A psiquiatra da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas (Abead), Carla Bicca, acrescenta que, com o início cada vez mais precoce das meninas no universo das drogas, muitas nunca nem sequer experimentaram uma relação sexual sem estarem intoxicadas.
“Elas fazem do corpo moeda de troca para conseguir a droga, inclusive as meninas que são de classe média alta”, afirma Carla Bicca. “Além disso, a cocaína e o crack, em especial, afetam com muita intensidade a região do cérebro responsável pelo prazer. Com isso, para elas fica mais difícil ter prazer em outra situação sem ser com o uso das drogas”, completa Carla.
As duas drogas que comprometem a área cerebral ligada ao prazer registraram aumento escalonado de dependentes do sexo feminino. Dados dos centros de tratamento de saúde do Estado de São Paulo mostram que em dois anos aumentou em 91% a procura de mulheres por este tipo tratamento.
Pacientes de várias idades (Marlene, de 45 anos, que não lembra da última vez que deitou com alguém sem estar alcoolizada) participam de um projeto piloto das clínicas mantidas pela Unifesp para, de forma simultânea no processo de recuperação, começarem a tentar reconstruir também a vida sexual após a dependência.
Mais um motivo para não usar drogas.
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